sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O mundo funk ostentação


O título acima é uma paráfrase de um livro de Hermano Viana, jornalista e antropólogo que escreve sobre o funk no Brasil desde a década de 1970. 

E a primeira pergunta que deve vir a mente de um ser qualquer é:  “o que leva alguém a escrever, estudar  o funk”?

Em seu livro ele conta que se interessou pelo tema por querer entender como um ritmo atraía tantas pessoas, e ao mesmo tempo sem que ninguém da Zona Sul carioca tivesse notado a existência. Confessa ainda que mesmo indo aos bailes para pesquisar, o que mais motivava era que tudo aquilo o divertia. 



Hermano Viana ainda hoje é uma das maiores referências ao se falar de funk ou de música de periferia como um todo. (veja site de Viana com escritos sobre funk – atenção a um sobre funk ostentaçãoReferência 1). Mas hoje ele já não é mais o único a estudar o funk. Outros exemplos aquiaqui ou aqui.

Mais recentemente, temos o fenômeno do funk ostentação, que recria um universo a parte para além do funk carioca. Mais que o ritmo contagiante, chama a atenção de qualquer observador o fato de serem jovens de periferia se comportando de uma maneira não condizente com o que esperam que seja a sua realidade, falando de carros, de camarotes, de marcas. (“É classe A cara, é bonito de se ver”). Este universo pode ser mais bem compreendido com o documentário “Funk Ostentação – o filme” (Referência 2).




Na música “Tá patrão” de Mc Guime, por exemplo, vemos toda uma narração de como se arrumar e se comportar para se nivelar a um patrão. 

Para os que se descontentavam com o funk afirmando que este fazia apologia a violência e abusava da sexualidade, esta é uma opção. E na mesma medida em que há milhões de visualizações desses videoclipes postados no youtube, há muitas críticas a esses posicionamentos.





Muito se pode discutir ao repensar esse estilo musica: o que ele representa, a realidade dessas periferias e as perspectivas de quem ali vive, as possibilidades de consumo cultural a partir desses ritmos, o que esses jovem produzem e promovem enquanto bens culturais. O programa Câmara Ligada discute alguns desses temas de aceitação e preconceitos com o funk, da música como uma produção cultural. (Referência 3)



Mais do que ficar naquelas discussões vazias se funk é ou não música, se é bom ou não, o que importa é que por trás dos ouvidos que escutam exista alguém reflita sobre os significados. O que faz a reflexão não é o objeto de observação, e sim quem o observa.